A cura
Descobri que não é o tempo que cura as feridas, não é sentar e esperar, não é querer desesperadamente a formula milagrosa da cura, da desmemória, não é se agarrar a dor até que ela sufoque e desintegre, não é não.
O tempo te dá o espaço necessário pra sentir a dor, pra analisar a dor, pra ter tempo de perceber se vale à pena doer e depois te dá mais tempo ainda pra começar o esforço, seu verbo agora é ESFORÇAR!
Esforço pra lamber as feridas, lamber até fechar, até cicatrizar, até ser apenas a marca do que já foi.
Lamber feridas dói, arde, queima, sufoca, tira o ar, o chão, faz o mundo ficar rodando em círculos em volta do passado tão recente que parece presente, mas lamber feridas cura.
São tantos sentimentos juntos, são tantas suposições, achismos e lembranças, é como reviver tudo de novo e de repente perceber que há de se ter esforço pra levantar dessa cama que parece que é tão dolorida, mas quanto mais lá se fica mais confortável se torna, esse colchão de dor, de magoa se molda ao corpo e procrastinamos com medo de tomar o impulso de ver a verdade, de crescer, de seguir em frente, de talvez esquecer.
‘Leve só o que foi bom…’
O esforço é desapegar, largar da dor, largar de ser a injustiçada, a coitada que levou o pé nos glúteos, é esforçar para não se importar com quem não se importa mais e não se importou tanto que te machucou.
Esforço que te faz perceber que você merece mais, merece sim, mesmo que pareça que foi muito bom, e se não tiver sido bom também o esforço trás a luz pra entender que eu merecia mais, merecia sim e estava aceitando 1/3 de tudo que podia ter de verdade, aceitando migalhas.
‘Ana você merece ser feliz,sabe!’
Esforço pra perceber que a vida segue, que ela ta em algum lugar de novo pra você beber: a felicidade!
E assim se embriagar de novo, mas dessa vez sabendo não cometer os mesmos vícios e não cegar com a embriaguez.
Esforço que vai te levar a cura, não o tempo sozinho, nada vai acontecer sem a força do tentar, tentar andar pra frente e sarar do corpo, da alma e do coração.
