Arrume sua bagunça, no seu tempo.
Aparentemente está tudo em ordem: família que te ama, amigos
que te apoiam e te escutam, trabalho pra pagar os boletos, comida na mesa, teto
pra viver, vendo assim tá tudo correndo tudo como deve ser. E cabeça?
Sentada na cama eu olho ao redor e me sinto grata por tudo
isso que tenho, que muita gente nem tem, não é mesmo?! Entretanto sinto toda
uma desordem mental, uma confusão de sentimentos, uma culpa por talvez está
sendo ingrata com tantas graças obtidas, uma bagunça que não consigo expressar.
Um vazio que não consigo preencher e nem é fome.
Ainda sentada no centro do espaço físico que ocupo, com toda
minha individualidade material, ali no meu quarto, sinto que reflito ali toda a
bagunça que eu sou, ou que estou passando. Minha mãe, que ama organização,
costuma dizer que meu quarto nunca foi arrumado, eu confesso que sempre tive
bagunça e preguiça andando juntas em doses saudáveis.
O que acontece agora é diferente, sempre deixei meio
bagunçado meu espaço, depois tirava um dia e tudo voltava ao seu lugar. Faz semanas,
meses, sei lá, que empurro esse dia pra amanhã, que nunca chega. Procrastinando
arrumar a bagunça física em que estou vivendo.
Eu estou empurrando a bagunça mental junto com a bagunça física, eu
estou fingindo que não tá tudo fora do lugar dentro de mim e em casa, assim sinto que o
mesmo colapso que meu quarto pode entrar, minha saúde mental pode fazer o
mesmo.
Uma vez assistindo uma palestra motivacional ouvi que: se tu
quer começar um dia bem, começa arrumando tua cama, eu guardei isso e tentei
seguir esse princípio. Mas e pra que a vida siga bem? É preciso que de algum
ponto eu comece a me organizar, seja do espaço físico para o mental, seja o
contrário, de alguma forma tem de haver um começo.
A procrastinação é uma zona de conforto muito perigosa,
assim como toda zona de conforto, não há nada pior do que estar estagnado, olhando
ao redor, sentido tanta coisa e permanecendo inerte, a inércia não precisa ser
literal, você se movimenta, você segue uma rotina, você sai com seus amigos,
conversa com sua família, ri, se diverte, mas o vazio volta, a bagunça está lá,
num canto empurrada dentro do guarda roupa que só acumula as coisas e roupas
amontoadas, dia após dia.
Permanecer inerte diante de uma crise é extremamente
tentador: vou só ficar aqui bem quietinha, que já já passa. Ai dá uma sensação
que passou, que ela sozinha viu que ali não se criava e foi embora, mas não
foi. Ela se criou ali, ali que ela nasceu, essa crise é tua, tua cria, de todas
as pequenas crises que foram se juntando e foram ignoradas.
Arrume sua bagunça, física e mental, não acumule as crises,
procure ajuda, ser uma pessoa bagunceira é diferente estar sendo uma pessoa
bagunçada, por dentro de mim, só quem vê sou eu mesma. As pessoas ao redor só tem
ideia de qualquer coisa, falar ajuda, se conhecer ajuda, arrumar a cama ajuda,
arrumar a casa ajuda e todas essas ajudas lentamente vão pondo um pouco de
ordem em mim.
Todo dia vai ser uma luta contra a preguiça, a
procrastinação, o medo, o vazio inexplicável, mas olhando ao redor encontro os
motivos os quais eu não posso desistir de me arrumar, de me organizar.
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