O divórcio

 

Em julho de 2021 faz vinte anos que eu me divorciei, na verdade o divórcio foi dos meus pais, mas impressão que eu tenho é que eu me divorciei junto, que eu passei por uma separação sem nunca ter tido nem um namorado até aquela idade. Não que eu não quisesse que eles separassem, cá entre nós, eu desejei isso desde os meus 12/13 anos, o que marcou não foi a separação, que eu particularmente já previa, foi o que veio com ela e tudo que ela representou na minha formação como pessoa, como mulher.

Pra você entender o contexto, meus pais são primos em 1° grau de uma família muito, muito unida, eu tinha 15 anos quando minha mãe me avisou que meu pai não ia morar lá em casa, assim que voltasse de viagem.

Eu tenho duas irmãs, que na época tinham cinco e três anos de idade, ou seja, eu era a pessoa que entendia o que estava acontecendo e não tinha ninguém pra dividir comigo tudo aquilo, eu fiz então o que achei que era melhor pra mim: ignorei tudo, passei a viver num mundo paralelo aos meus pais e a separação deles, eu fingia que nada estava acontecendo e dizia pra mim mesma que isso jamais vai afetar minha vida de relacionamentos amorosos. Eu me neguei a ter acompanhamento psicológico, eu dizia que não era eu que estava me divorciando!

Ledo engano, eu estava! Naquele processo de negação eu me divorciei de acreditar no outro, de ter fé no que diziam sentir por mim e de achar que nada fácil demais valia a pena, até porque o namoro dos meus pais foi coisa dado como certo e certeiro, eles se conheciam a vida toda.

No ano seguinte eu namorei um menino na escola, toda semana eu achava fácil demais aquele namoro e arranjava um motivo pra terminar, depois eu pedia pra voltar, até que ele cansou e mandou eu me lascar (não, ele não mandou, mas disse que estava cansado de mim).

Depois eu me envolvi com um rapaz da igreja, minha vida em casa era a realidade que eu negava, fora dela eu era perfeita, eu não tinha problemas, mas não assumia nada com ninguém, até que o rapaz da igreja também cansou e achou alguém que queria namorar, eu como gostava daquilo que era difícil passei uns meses sofrendo por ele.

Pausa para o relacionamento abusivo: foram quase 3 anos de relacionamento, mas uns anos pós relacionamento: a pessoa fingindo que nós éramos amigas pra poder controlar minha vida. Foi aqui que eu descobri o quanto vulnerável e manipulável eu poderia ser nas mãos de alguém que não media esforços pra se impor e ter suas maquinações realizadas.

E aí eu me libertei, desse relacionamento e vivi outras histórias: tortas, infantis e impulsivas.

Foi um cara do meu passado que me perguntou recentemente porque eu não namoro e aí essa pergunta me levou a reavaliar uma vida inteira de relacionamentos, desde o dia que perdi meu BV, aos 15 anos, no mesmo mês que me divorciei.

Hoje eu não namoro por N motivos ou simplesmente porque não achei ninguém legal e confiável pra isso, mas um dos motivos talvez seja o medo que eu tinha de assumir que o divórcio me tornou uma pessoa com medo do desconhecido, o meu relacionamento mais longo (aquele abusivo), foi com uma pessoa que era minha melhor amiga, que eu confiava de olhos fechados. Eu entendi depois de vinte anos que eu me apego a tudo aquilo que acho já conheço, e que certamente não vai me magoar. No entanto minha mãe conheceu meu pai a vida toda e se magoou do mesmo jeito.

Levou só vinte anos e uma pergunta pra eu entender que eu me divorciei de uma pessoa que eu poderia ter sido (eu me separei da coragem e dá fé no outro), junto com meus pais e suas dores. Eu não os culpo que isso fique bem claro, hoje eles são amigos e eu sou uma mulher adulta que sabe lidar com os próprios demônios e que sabe entender e compreender que eles estiveram tão perdidos na época, como eu fiquei durante tantos anos depois em varias relações.

O que passou, passou. O que nós temos hoje é o presente, pra viver com menos medo do futuro desconhecido. 


 

Comentários

Postagens mais visitadas