Sobre não guardar nada:

 Quando eu era criança, escutava minha mãe dizer: “ Ana Paula é muito diferente de mim, parece com o pai, a raiva dela dura cinco minutos e ela não consegue guardar mágoa e rancor de ninguém” 


Eu fui crescendo e minha mãe me fez entender que isso era uma coisa boa na minha personalidade. No entanto, a vida é cheia de eventos e pessoas, uma hora ou outra alguma coisa vai te frustrar, te decepcionar e te magoar.


As decepções e mágoas vinham e eu lidava com elas como eu sentia e sabia, mas uma hora isso virou julgamento, eu era a trouxa, a besta, a que as pessoas achavam que poderiam dizer e fazer qualquer coisa logo passava, fui ficando frustrada com a minha vulnerabilidade e comecei a alimentar rancores, orgulho e mágoa.


Um longo caminho tentando ser mais forte, ser mais resistente, ser menos besta, mais fechada, eu tive eventos que me ajudaram a trabalhar esse fortalecimento que eu jurava ser saudável. 


Já adulta, passei um período sem falar com meu pai, uma briga que parecia banal pra quem visse de fora, mas eu estava trabalhada em sentir mágoa, me fazer forte, me ressentir ao ponto de não sentir mais nada. Eram sentimentos que eu resolvi acumular e a briga foi o gatilho. 


Um dia eu saí para um date com um carinha que a gente conversava muito sobre sentimentos e assunto da vida e ele me disse a seguinte frase: “ o problema da mágoa é que é um veneno que a gente toma esperando que o outro sinta, que o outro sofra”

Eu achando que estava me medicando, me fortalecendo, tomando um suplemento contra a vulnerabilidade de ser como eu era. 

Sabendo que meu pai era como eu, e que diferente de mim ele fugia de qualquer conversa intensa, emocional ou de qualquer conflito; fui eu lá fazer as pazes e me permitir ser emocionada e livre de mágoas.


Um ano atrás eu fui magoada, sofri decepções, raivas, emoções confusas e vulnerável como sou pra esses sentimentos e me muni de orgulho e rancores pra me proteger, me deixei cegar por um poder de me achar melhor que qualquer pessoa que quisesse me culpar do que eu estava sentindo, me coloquei numa bolha. 


Mas dentro da bolha eu estava ferida, magoada e perdida em mim mesma, até que resolvi tratar essa dor como se deve: buscando ajuda e cura, lembrei da frase que o boy me disse lá no date e lembrei que tava me envenenando de novo. 


Mais uma vez eu tinha alguém que eu amava mas que não tinha capacidade de lidar com a vulnerabilidade e os conflitos, e esqueci a vergonha e orgulho de ser assim essa menina que Mainha dizia que não sabia guardar sentimentos ruins, perdoei e me perdoei e de volta fui perdoada, porque a gente pensa que quando é magoado fica intocável e incapaz de ferir o outro, que só a tua dor é válida e verificada. 


Tem pessoas que me magoaram e que eu magoei, que nossos ciclos encerraram-se naturalmente, outras que não valiam nem o esforço de guardar sentimentos ou lembranças, escolhi não ter vergonha de ser vulnerável, de voltar atrás, de ser contraditória sentimentalmente, de perdoar a mim mesma e quem por ventura tenha me ferido. 

Peço sempre que Deus me proteja de mim e da maldade de gente boa, que eu tenha a leveza de não carregar o veneno da mágoa, mas que saiba me proteger de quem não sabe valorizar, ou ao menos respeitar o meu jeito de ser.








Comentários

Postagens mais visitadas